Sem esforço e exercícios repetitivos, as crianças com dificuldades motoras ganham mais movimento brincando na água.

Lélia Chacon e colaboraram Deborah Kanarek, Fernanda Portela, Malu Echeverria, Mônica Brandão e Patrícia Cerqueira

cirta na midia atividades aquaticasQuando vê uma piscina, Nathalie Bruna, 4 anos, inclina a cadeira de rodas e mostra que quer cair na água. Ela tem paralisia cerebral e não fala. Há um ano e meio começou a fazer hidroterapia na Associação de Assistência à Criança Deficiente, AACD, em São Paulo. Desde então, esta é sua atividade favorita. "Na água minha filha fica relaxada e consegue fazer mais do que fora dela", comprova a mãe, Priscila Eliane dos Santos. Nathalie aprendeu a sustentar o pescoço, a fazer mais movimentos, como mexer as pernas, e deu fim às suas pneumonias constantes, causadas por problemas respiratórios. "Antes ela só movimentava os olhinhos", conta a mãe."No meio líquido, em temperatura de 34 graus, a criança fica mais relaxada e tem menos espasmos. Isso facilita o alongamento dos músculos retraídos", explica o diretor-clínico da AACD, o ortopedista Antonio Carlos Fernandes. Explica-se: fora da água, a musculatura das crianças com deficiência física pode se tornar muito rígida, o que as impede de fazer determinados movimentos. No meio líquido, a criança fica com seu peso reduzido e tem mais impulso. Isso acontece por causa da força de empuxo da água, que impulsiona o corpo de baixo para cima, contra a gravidade, e provoca a flutuação. A hidroterapia, entretanto, não exclui a fisioterapia clássica. "Na reabilitação física a terapia na água complementa a fisioterapia", alerta. 

Adaptação e brincadeiras 

"A criança parcialmente imersa tem o seu peso diminuído em até 90%. Com a hidroterapia é possível realizar movimentos até de marcha para quem tem paralisia cerebral", afirma o fisioterapeuta Jorge Moura, do Centro Integrado de Reabilitação e Terapia Aquática (Cirta), no Rio de Janeiro. Moura lembra que é no líquido amniótico, ainda dentro do útero materno, que o bebê realiza seu primeiro movimento ao levar o dedo à boca. Depois que nasce, com a força da gravidade, a criança demora a ter movimentos e começa a desenvolver reflexos. "É na água que os movimentos começam. Por isso esse é o meio ideal para que a criança possa aprender ou reaprender alguns movimentos perdidos", atesta. 

Na água, a criança também trabalha os movimentos por meio de brincadeiras e jogos. "Esse é o conceito Halliwick, uma técnica que trabalha funções motoras do dia-a-dia de maneira natural sem exercícios forçados, repetitivos e cansativos", define Moura. Há um período de adaptação para quem começa a hidroterapia. A mãe entra na piscina com o filho até que ele se acostume à água e ao profissional que orientará seu tratamento. Em seguida, ele aprende a se apoiar apenas no professor. Aos poucos a criança se solta e consegue flutuar sozinha. Ramon Pereira de Freitas, 12 anos, faz terapia no Cirta há quatro anos como forma de retardar a evolução de uma doença progressiva que possui, a distrofia muscular. "Na idade que meu filho tem, se não fizesse hidroterapia ele já poderia estar na cadeira de rodas", afirma a mãe, Liliana Pereira de Freitas. Para Ramon, além de ser uma diversão, fazer movimentos na água é menos dolorido. 

Corpo e mente 

Uma outra, e não menos importante, vantagem é que ela faz muito bem à auto-estima dos que têm algum tipo de deficiência. "O aumento da confiança, da autonomia e a integração com outras crianças são ganhos evidentes", diz a orientadora de Educação Física Maria das Graças Buso, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em São Paulo. Ela explica que crianças com síndrome de Down utilizam a hidroterapia para fortalecer a musculatura flácida, melhorar a coordenação motora e a respiração que é feita pela boca. 

Nadar não é o objetivo principal dessa terapia, mas, se a criança demonstra habilidade, pode até participar de competições. É o que se chama reabilitação desportiva. "Dependendo da evolução da criança, quando é possível, ensinamos a nadar", diz o diretor-clínico da AACD, uma das pioneiras em oferecer a natação para bebês com deficiência. Por não terem a parte física tão comprometida, as crianças com Down podem se tornar exímios nadadores, e ganhar medalhas, um enorme benefício para quem enfrenta tantos desafios no dia-a-dia.J 

Piscina adaptada

A piscina e o ambiente fora da água aquecidos a 34 graus, em média, são fundamentais para que a musculatura da criança fique relaxada. O piso deve ser antiderrapante, as bordas da piscina elevadas e as escadas adaptadas. "Para obter bons resultados no tratamento, não adianta apenas ter uma piscina. É preciso oferecer equipamentos adequados, além de profissionais capacitados", afirma o fisioterapeuta Jorge Moura. Alguns profissionais usam os flutuadores como apoio para a criança. Moura não utiliza, pois acredita que o único apoio para a criança na água deve ser o especialista. Com o tempo, a criança vai se soltando na água até conseguir flutuar sozinha.


Serviço Centro Integrado de Reabilitação e Terapia Aquática (Cirta), %  (21) 2495-5871www.cirta.com.brAssociação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae -SP) %  (11) 5080-7000www.apaesp.org.br Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) %  (11) 5576-0777www.aacd.org.br 


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